segunda-feira, 19 de abril de 2010

Quando uma rede social pode salvar uma vida

Isso era para ter um caráter científico, era para ser um texto o mais neutro possível, entretanto não será possível fazê-lo devido a intensidade de fatores humanos contidos na situação a ser descrita. Sem demagogias!

Foi no dia 16 de março, uma terça feira, que várias pessoas decidiram se mobilizar através do Twitter para ajudar o blogueiro @AleRocha, que sofre de uma rara doença.

Respeitado principalmente pelo blog que mantém, Poltrona, AleRocha sofre de uma hipertensão pulmonar primária. O problema trata-se de uma síndrome que pode levar à falência o ventrículo direito devido a um aumento progressivo na resistência vascular pulmonar.

Aposentado por invalidez aos trinta anos, Ale viu na web uma possibilidade de se distrair e até mesmo gerar renda.

No início de seu tratamento medicamentos de alto custo invadiram seu orçamento. Um dos medicamentos ele recorreu à justiça e conseguiu o direito de ganhar, entretanto outro era comprado com seu próprio dinheiro.

Como o próprio blogueiro escreve, várias internações passaram em sua vida nos últimos tempos e o custo de sua saúde só aumentava, até que chegou a um limite no fim de 2008. Ele conta que após os médicos tentarem guerreiramente ajudá-lo para conseguir os caros remédios gratuitamente na farmácia do InCor, nada conseguia e estava cada dia mais insuportável sustentar tudo. Depois de transplantes, dietas rígidas e vários outros grandes desafios, Ale resistiu bravamente aos problemas que lhe cercavam e continuou a batalha em busca de um remédio (Iloprost) que lhe garantia a vida.

“(...)O Iloprost salvou a vida deste outro paciente que está na fila. Ele chegou a ficar desacordado. Seu inchaço era tão grande que o líquido era drenado diretamente do abdomên. O Iloprost comprovadamente aumenta a sobrevida do paciente. Torna possível a chegada ao transplante e, além disso, a sobrevivência durante a após a cirurgia.
No entanto, apesar de ter conseguido a liminar em janeiro deste ano, nada do remédio chegar. Não se trata de um problema do estado de São Paulo. É um problema de Estado. Da máquina burocrática. Cansado de aguardar, fiz um desabafo por e-mail para uma série de pessoas.”

Em março último, ainda pagando fortunas para se manter vivo e estável (na medida do possível) a história do blogueiro surgiu forte na mídia após uma matéria em um jornal de Mogi das Cruzes, onde mora.

Após isso, um usuário do Twitter (Que, aliás, nem seguia o próprio Ale) publicou a seguinte mensagem: “RT: @joseserra_ Sr. Governador, o Sr. está a par do problema que o @AleRocha está passando? // Pessoal, RT por favor.”

O pedido de retweet foi mais que atendido. Inúmeras pessoas replicaram o texto até que, de fato, a situação chamou a atenção do twitteiro sonâmbulo José Serra e sua equipe, que decidiram então dar uma resposta â Ale.



Através do Twitter, Serra esclareceu a demora na entrega do medicamento e ainda enviou, publicamente, um comunicado garantindo que o remédio continuaria a ser recebido por Ale Rocha.

Esse caso trata-se, em minha ótica, um exemplo vivo e intenso da cibercidadania. Redes sociais para autopromoção, promoção de terceiros em contexto comercial, forma de comunicação, tudo isso já é de conhecimento comum e prática de muitos, entretanto, usar a rede para mobilizações do gênero é uma idéia que, sem dúvida, pode trazer mudanças ao que vivemos hoje.

O filósofo Álvaro Vieira Pinto trata tecnologia como uma ferramenta de ideologia (e nem entro aqui na ideologia trabalhada por José Serra ao responder o blogueiro, e sim o fato de uma mudança significativa ter sido providenciada). Essa, uma das definições de seu vasto livro “O Conceito de Tecnologia), é na verdade uma das verdades que passam desapercebidas por muitos.

Se a rede pressupõe liberdade, se ela possibilita a falada comunicação de mão dupla, dotada de inúmeras oportunidades de conversações, ela pode também ser usada para defender ideais, colocar em prática o papel de cidadão, cidadania e todas outras nuances do debate. Basta absorvermos as possibilidades oferecidas por todo esse infinito binário e praticar o que acreditamos. Às vezes, meros 140 caracteres podem até salvar uma vida.

Referências
Pinto, Vieira Alvaro. O Conceito de Tecnologia. Contraponto Editora. Vol1

2 comentários:

Márcio Kerbel disse...

Não podemos ignorar os fatores humanos contidos nesta história, eles não contrariam o caráter científico de nosso tema, pelo contrário, ajudam a compreender a força e a dinâmica das redes sociais e a sua capacidade de mudar o curso da história.

A cibercidadania aqui exemplificada pode ser observada em iniciativas como o Veia Social(http://www.veiasocial.com.br) que se propõe a reunir doadores de sangue de todo o país.

No campo político, temos como exemplo, a reação da sociedade espanhola após os atentados no metrô de Madri, derrotando a versão oficial do governo e elegendo a oposição, estratégia que se tornou possível mediante o uso intensivo de celulares e computadores

Não faltam empreendimentos que confirmam a capacidade das redes para criar, agregar, mobilizar e consolidar movimentos sociais. É necessário, portanto, desenvolver dispositivos que ampliem o acesso da população aos meios digitais de produção de conteúdo.

Abs.

Márcio Kerbel.

Raphael Rap disse...

Belo exemplo...

Não conhecia o caso. Creio que seja interessante destacar justamente o fato de que a ação cidadã de maneira democrática tem múltiplas facetas.

O fato de que as redes digitais possibilitam uma interação ainda maior entre pessoas de interesse comum, permite-nos a utilização de clichês verdadeiros como o de que "a internet é uma rede de pessoas"

Belo exemplo de cidadania, mesmo que pontual, pode gerar atitudes generalizadas.

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